Notícias dos Bolseiros Moçambicanos no Japão
Testemunho 3: Sr. Fernando A. Quembo
Testemunho 3: Sr. Fernando A. Quembo
Chamo-me Fernando A. Quembo. Estou no Japão a fazer o doutoramento em Asia Pacific Studies – especialização em económia de desenvolvimento – Ritsumeikan Asia Pacific University, desde Setembro de 2009. O meu interesse é investigar como as economias em desenvolvimento, particularmente aquelas na África sub-Sahariana podem financiar o seu desenvolvimento e gradualmente reduzir a sua dependência externa.
Acho o Japão um lugar apropriado para a minha pesquisa. O modelo de desenvolvimento que o Japão seguiu depois da segunda Guerra Mundial, que combina o estado e o mercado, adequa-se melhor ao meu interesse. Este modelo foi depois adoptado e/ou melhorado por outros países da região, e hoje esses países figuram entre os de desenvolvimento acelerado. Aliás, muito recentemente, Ásia foi a região que mais resistiu a actual crise financeira.
A Ritsumeikan Asia Pacific Univerty, é uma Universidade internacional, com uma diversidade cultural de invejar. Há estudantes vindos de todos os cantos do mundo, desde os menos desenvolvidos da América Latina, África e Ásia, aos mais desenvolvidos, como Estados Unidos da América e Inglaterra, Alemanha, França incluindo China. As últimas estatísticas indicavam existirem na universidade estudantes vindos de 99 países diferentes, fazendo desta universidade uma das poucas no Japão, senão no mundo, com tanta diversidade cultural. Lamentavelmente, existem apenas três mocambicanos (incluindo eu) a estudar nesta universidade. A universidade oferece quase todos os seus cursos em inglês, o que vem a justificar o seu mosaico cultural.
Quando a Embaixada informou que havia-me atribuido a bolsa, imediatamente liguei para alguns colegas a informar que iria partir para o Japão, fazer o meu doutoramento em economia. Ao que um deles disse-me: “Japão?...Ásia, fazer o doutoramento? E como vais-te arranjar com a língua e a escrita?”. No seu lugar eu preferia a Europa, América ou ainda a Austrália. Fiquei um pouco constragido, mas acabei aceitando a bolsa e hoje cá estou! Talvez também porque já tinha passado pela Europa onde fiz o mestrado. O meu interesse era de ver como é que as coisas seriam na Ásia. Assim, já podia fazer uma comparação triangular: África, Europa e Ásia.
Sem pretensões, considero que estudar no Japão não é assim tão difícil como à primeira pareceu-me. Estou a gostar do meu curso, como já havia dito, para a minha pesquisa o Japão é o lugar propício. Tenho uma oportunidade ímpar de estudar com colegas de outros países com quem discuto vários temas sobre desenvolvimento. O término do meu curso está previsto para Setembro do próximo ano.
A língua japonesa não é nada complicada, embora esteja embebida nela, particularmente na sua escrita – Kanjii – grande parte da cultura japonesa. Ao aprender o Kanjii, voce começa a perceber como o saber, particularmente a escrita, evoluiu ao longo dos tempos. Já posso falar e escrever algumas palavras simples. A universidade organiza cursos de língua para estrangeiros. E na cidade onde morro, o conselho municipal tomou a dianteira ao organizar cursos e programas interactivos para estrangeiros.
Os japoneses, aparentemente tímidos e reservados no primeiro contacto, são pessoas muito simpáticas e dedicadas ao trabalho. Essas características são desenvolvidas dentro da própria família e na escola, onde primeiro as pessoas são ensinadas a dedicar-se ao trabalho. O mais interessante é que no trabalho ninguém procura ser melhor que o outro. Cito um provérbio japonês que diz todos os pregos devem estar ao mesmo nível, o que for mais saliente deve ser nivelado (minha tradução), talvez venha a justificar o comportamento dos japoneses. Seja onde estiverem, não gostam de fazer-se salientes, isto é, aparecer.
À primeira vista, voce pode não gostar da comida japonesa, mas ela é contagiosa! Pois uma vez experimentada, voce jamais quer deixar. Mas para quem tiver a infortuna sorte de nunca habituar-se, tem a possibilidade de cozinhar segundo a sua cultura. O mercado local tem todo o tipo de comida.
Quanto ao choque cultural, destacaria os onsens. Onsens, são banhos públicos em banheiras grandes, geralmente alimentados por águas termais-quente. Depois de um longo dia de trabalho, os japoneses juntam-se, separados segundo o género, e poem-se a banhar pelados. Já tive a oportunidade de experimentar e gostei. Mas atenção, nunca repeti...risos!
Nota: A opinião expressa pelo bolseiro no artigo aqui publicado, não veícula necessariamente o posicionamento desta Embaixada. A Embaixada do Japão não se responsabiliza pelos conteúdos aqui publicados.
Artesanais bonecos de gatos "Venham estudar no Japão!"